segunda-feira, 14 de novembro de 2011

INHOTIM - Uma Experiência Estética

Estivemos visitando Inhotim em Brumadinho - Minas Gerais. Era uma viagem muito desejada, desde a inauguração do Museu há mais ou menos 4 anos atrás.... Na verdade, um sonho que eu sabia que seria um verdadeiro encanto... Apenas não tinha a idéia de tudo que representaria pra mim essa viagem, tão importante, desejada e singela.
Fomos até Belo Horizonte de ônibus... péssimo ônibus, muito velho, que inclusive nos deixou na mão, perdeu o freio e tivemos que ficar aguardando a chegada de um outro carro, o que atrasou nossa chegada em pelo menos duas horas. Irresponsabilidade total da empresa...
Eu só pensava em chegar.... e tudoestava bem demorado e eu ia ficando um tanto ansiosa.
afinal, eu estava determindada e queria aproveitar o tempo do melhor modo.Procurei me focar completamente na viagem, tão sonhada, ou seja, na bela experiência de visitar um museu de arte contemporânea em meio aos jardins inspirados em Burle Marx (1909-1994).
Finalmente chegamos na Rodoviária de Belo Horizonte e corremos para pegar um ônibus de linha para Brumadinho, tínhamos mais duas horas pela frente, em estrada ruim, no banco duro, carregados de malas, depois de uma noite bem mal dormida....
Mas diante de tanta vontade de chegar, lá fomos nós... Conseguimos chegar, nos dirigimos à simpática Pousada Lafevi, à quatro quilômetros do Museu, ótimo, afinal em última análise, poderíamos ir a pé! Não foi preciso, o Luiz dono do recanto nos levou...
Nem preciso dizer que não dormimos, apenas tomamos um banho quente e pé na estrada... Realmente eu não podia esperar...
Só posso dizer que foi algo deslumbrante chegar em Inhotim, não porque eu seja aspaixonada por arte contemporânea, muito ao contrário, pouco entendo dessa linguagem, mas o encantamento veio da harmonia e da interação entre natureza e arte, sem nenhuma hierarquia, mas a articulação orgânica entre as obras e galerias e a natureza esplêncida ao redor... Pura beleza! Uma experi~encia estética que nos tomou completamente, nos encheu de alegria e prazer, de surpresa pelo encontro sublime com os artistas em suas galerias e surpreendentemente por termos apreciado obras incríveis que pareciam dialogar completamente com um entorno grandioso em que a natureza envolve a idéia e complementa o conceito proposto pela obra... Só posso dizer que meu sentimento foi de encantamento.... fruição e alegria por estar ali, com as pernas doendo de tanto andar e tentar desbravar os quase 1000.000 de metros quadrados de uma área cujos mistérios envolvem grandemente todos que estiverem disponíveis para viver profundamente essa experiência estética e sobretudo aprender com ela.

A chegada já é impactante, pela beleza e o ar leve que passamos a respirar depois da odisséia que enfrentamos antes de chegar...


Os lagos são imensos espelhos d'água que refletem todo o parque, são verdes, de encher os olhos....

O obra de Cildo Meireles, um contundente exemplo de harmonia com a natureza

O artista dinamarques Olafur e nossa enorme surpresa! 

Um navio em meio a mata... Essa galeria é do Miguel Rio Branco, um trabalho chocante, assim como o surgimento dessa arquitetura no jardim...

 A caixa mágica de Oiticica, colorindo o espaço, com cores e misteriosos labirintos...

Puro Narcisismo e um susto, olha eu ali, mil vezes... (artista japonesaYayoi Kusama)

Até o 'Mikey' estava lá! Acho que ele perdeu a cabeça...(Paul McCarthy)

 A natureza se rende, o artista sabe como estar lá! (Waltércio Caldas)

Diante de tanta contemporaneidade, um pouco de tradição e pensamento zen... (O chinês Zang Huan)

Adriana Varejão, um espaço de respeito para acolher uma obra impactante, delicada e de rara sensibilidade...


Jogar essas barras de ferro, de um andaime gigante e deixá-las na posição em que cairam... Dá um certo aperto no coração. E mais uma vez a natureza que acolhe...(Chris Burden)

Depois disso tudo, é só caminhar, respirar, pensar e tentar elaborar tantos pensamentos, tanta beleza e nos percebermos dentro dessa experiência.

 Um forte, a natureza, a defesa simbólica do território.. (Chris Burden)
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Uma árvore de bronze, suspensa e segura por árvores naturais, dá pra acreditar???

Sempre uma alegria, um colorido, uma intervenção!(Jarbas Lopes)

Por onde olhamos, a beleza se impõe, e mais do que isso a surpresa do encontro...

Os corpos de Edgard de Souza

 O Som da Terra, a natureza, o vidro, a visão que embaça e depois clareia e deixa ver, ver e ouvir os sons fortes e assustadores da mineradora logo ali perto... (Doug Aitken)

                                                                                            
O Monstro de vidrode Matthew Barney
Isso é Inhotim, isso é viver Inhotim, isso significa não voltar a ser o mesmo jamais, isso representa viver uma experiência estética grandiosa...


domingo, 23 de outubro de 2011

Leon Cakoff e o Cinema sem Fim



Fiquei triste com a morte de Leon Cakoff, não apenas por ver chegar ao fim sua enorme contribuição para que pudéssemos ter acesso aos melhores filmes das mais diferentes culturas de todo o mundo...

Com certeza isso já seria suficiente pra justificar um certo sentimento de vazio e nostalgia que pairou sobre mim, mas é muito mais que isso, fiquei pensando que as pessoas que realizam sonhos e se dedicam a alguma coisa com tanta paixão, não poderiam morrer...

Ou pelo menos, só deveriam morrer bem mais tarde, quando não houvesse mais nenhum sonho pra compartilhar...

Foram tantas histórias, tantos filmes que ajudaram a mudar nosso modo de ver o mundo. Eu era uma garota caipira, que nunca tinha vindo pra ‘cidade grande’ e foi pelo cinema que conheci São Paulo, foram os filmes que me capturaram para sempre... foi por meio do cinema que mudei.


As Mostras foram as grandes janelas para o mundo, através delas eu cresci, aprendi mais sobre a vida, chorei, comecei a perceber quanta poesia aquelas imagens derrubavam sobre meu olhar atônito.


Impossível não sentir gratidão e não reconhecer a importância de um trabalho sensível de garimpeiro, que trouxe tanta beleza para os cinéfilos de São Paulo e de tantos outros lugares...


Há muito tempo, outubro é um mês assim, muita gente pede férias nesse período, vem pra São Paulo e fica zanzando por aí, de sala em sala, enfrentando filas imensas... pra depois se emocionar e trocar idéias com os amigos...defender com unhas e dentes um filme, tomar uma cerveja ou quem sabe um café, mesmo que sozinho, num balcão qualquer, na tentativa de elaborar o que se viu em tela grande, no escuro da sala!


Porque cinema é assim mesmo, paixão pura, quase militância, loucura, vício, encantamento... enfim sonho coletivo! Não dá pra ser diferente.


Com a morte de Cakoff morre também um pouquinho do brilho das Mostras de Cinema. Mas, a vida segue, o cinema sem fim continua aí! Leon ajudou a construir uma parte importante dessa história, São Paulo ficou um pouquinho menor, mas o que aprendi até aqui foi extremamente inspirador e continuará alimentando o sonho que realizo na companhia dos filmes de todo o mundo que vejo por aí.... Um ótimo jeito de viajar!

Agradeço ao Cakoff por ter aberto essa porta e indicado um caminho possível na sala escura....






sábado, 15 de outubro de 2011

Meu País



Pode parecer estranho, mas estava com saudades do Rodrigo Santoro, do excelente ator que ele é... e que às v ezes fica meio escondido diante de tantas participações que aceita fazer em filmes de gosto extremamente duvidoso...
Então, lá fui eu assistir Meu País de André Ristum, com Rodrigo Santoro, Débora Falabella, Cauã Reymond e o imbatível Paulo José. Faço questão de citar todos os atores, porque de fato é algo surpreendente.
Paulo José faz uma pequena participação que consegue ser de uma densidade incrível, como sempre ele defende o personagem com unhas e dentes e talvez seja um dos maiores atores brasileiros que merece todo nosso carinho e reconhecimento.


Cauã Reymonds, foi muito além do rostinho bonito. Nunca acreditei que ele fosse se colocar tão bem como ator de cinema, afinal as novelas também abundam na sua carreira global, mas ele esteve brilhante em pelo menos dois filmes como: Estamos Juntos (2011) de Toni Venturi, Se nada mais der Certo (2009) de José Eduardo Belmonte. Em Meu País, ele se sai bem no papel de um garoto irresponsável e mimado, com uma interpretação precisa.
Rodrigo Santoro, felizmente em muito boa forma, faz um personagem sério, centrado, introspectivo e de certo modo angustiado... Uma atuação na medida certa, que emociona por revelar um drama sem ter que falar sobre ele...

Finalmente, Débora Falabella no papel de uma menina com problemas mentais consegue uma interpretação que não cai em estereótipos muito prováveis na situação proposta pelo filme. Enfim, Débora, se supera e delicadamente constrói de modo singelo o perfil da personagem.

O filme é bonito, são três irmãos tentando elaborar suas perdas, emociona pelo entrecruzamento do drama familiar e das questões sociais e políticas que envolvem a problemática de cada personagem. Acho que vale a pena assistir, embora o final, deixe um pouco a desejar....

Os Loucos e Encantadores Náufragos


Impossível não manifestar a emoção que senti novamente ao assistir o espetáculo do théatre du soleil – Os Náufragos da Louca Esperança dirigido por Ariane Mnouchkine também criadora do Grupo em 1964 na França.
Depois de Les Éphémères, encenado em 2007, novamente o impacto foi imenso pra mim, não sei explicar direito, mas a trupe mais uma vez, conseguiu tocar, tão profundamente minha alma.


Trata-se de um teatro visceral, trabalho pesado e colaborativo, atores-operários, loucos sim, que correm, carregam e arrastam cenários, fazem a luz do espetáculo, o som, a música. Com isso, cria-se uma dinâmica deveras impressionante e envolvente. Tudo que sempre esteve nos bastidores vem para o palco, ocupa os espaços e passa a ser alvo do nosso olhar afoito.


O espetáculo transcende, vai além da história que quer contar e acaba contando muitas outras, a de seus artesãos que compartilham esse fazer teatral, com seu suor, seu esforço. E ali convivem o tradicional e o contemporâneo.


Dessa vez, o texto escolhido foi o livro póstumo de Julio Verne - Os Náufragos de Jonathan. A linguagem proposta pelo Grupo, transita entre teatro, dança, literatura e cinema, a magia está toda aí...nesse jogo entre Filme-Teatro-Filme e assim, nosso sonho perdura e passeia durante 3h45 de espetáculo puro.



Enfim, enquanto Les Éphémères com seus cenários girando diante da paltéia, revelava cenas sublimes do cotidiano e com elas toda dor da existência, os náufragos vem nos convidar ao enfrentamento, em busca de um mundo melhor e justo, onde seja possível confiar nos homens... e principalmente um mundo que nos permita sonhar e ser alegre!

Conhecer o trabalho da cia Théâtre du Soleil pode ser uma oportunidade única e transformadora!!!

domingo, 2 de outubro de 2011

A árvore da vida - Ame-o ou Deixe-o



Uma parte do público gostou de Árvore da Vida, principalmente os seguidores de Terrence Malick, um diretor Cult tem sido bastante difundida. Quanto a mim, considerei o filme extremamente pretensioso e repleto de tentativas frustradas que são descaradamente despejadas sobre o expectador de maneira óbvia, diria até que menosprezando a capacidade do público de compreender o subtexto....

Ao contrário disso, tenho gostado cada vez mais do cinema simples, que consegue discutir suas idéias sem grandes malabarismos, talvez o desafio maior para um cineasta...

A árvore da vida não alcança seu propósito, se é que há algum. O filme todo parece uma grande jogada de marketing a começar pelo elenco: Brad Pitt e Sean Pean, a impressão que fica é que lançou-se mão de grandes nomes do cinema americano com a clara intenção de vender o produto ou na pior das hipóteses, iludir o espectador. Não quero com isso diminuir a competência dos atores, o que seria ridículo. Devo reconhecer que Brad Pitt está impecável no papel do pai autoritário, cheio de recalques, que oprime a família de modo violento. Já Sean Penn faz um papel no mínimo medíocre, muito aquém das suas possibilidades.

As crianças de Árvore da Vida estão estupendas, super bem dirigidas e absolutamente expressivas e sensíveis, talvez o melhor que o filme pode oferecer ao público. Me fez pensar no A Fita Branca - Michael Haneke

No mais, Malick não economiza nas imagens de vulcões, dinossauros (a moda Spilberg), entranhas do corpo humano, passando pela vida marinha, planetas diversos, os quatro elementos ... tudo isso pra explicar o conflito nas relações familiares. E por aí vamos vagando nos 138 minutos que dura essa aventura metafórica que de fato não parece levar à lugar nenhum....

O fato é que os meios de comunicação e a crítica não informam o público sobre a natureza dos filmes, de forma clara e suficiente, então, temos a sinopse de árvore da vida diz: ‘Sobre a vida de uma família nos anos 50’. Parece muito pouco pra orientar a ida de qualquer um de nós ao cinema...

Sugiro também o filme Sonho de amor. O título é totalmente infeliz e quem for ao cinema para ver um filme água com açúcar como aqueles protagonizados por Júlia Roberts vai perder a viagem. Trata-se de um ‘filmaço’, denso, sério, sem melodramas, atores esplêndidos, muito ao contrário do que parece indicar o título. A crítica também parece não ter comunicado nada sobre isso.



'Transeunte' somos todos nós!


Acredito que Eryk Rocha será um dos diretores mais lembrado por ter reinventar o cinema brasileiro. Seus filmes são sempre extremamente surpreendentes, tanto na forma quanto no conteúdo.

Dirigiu o premiado documentário de longa-metragem "Rocha que Voa" (2002) que traça um panorama político-ideológico sobre a América Latina a partir de relatos de seu pai Glauber Rocha que viveu em Cuba.


Eryk trabalhou com diferentes suportes, do digital ao super 8 passando pela película 16mm e pelo vídeo. Cada um desses suportes está absolutamente afinado com o projeto, cada uma destas escolhas está a serviço do objetivo a ser alcançado. Forma e conteúdo completamente articulados, nada está no filme por acaso.

A Película 16mm utilizada no filme foi encontrada pela equipe de filmagem no sótão abandonado de uma repartição, estavam vencidas há muitos anos ( 1976 e 1985) fato esse mais do revelar a passagem do tempo e a volta a um passado distante, desperta questões sobre a memória de um certo fazer cinematográfico e sobre a memória de quem não viveu a história.
A coloração esverdeada, granulada e esmaecida que vemos em alguns momentos do filme, somadas ao preto e branco e o forte contraste entre luz e sombras, retransmite a idéia de certo envelhecimento, um passado, promovido por um material que organicamente se articula a forma que o filme quer ter e seu conteúdo. É um filme orgânico no sentido ético e estético.
A montagem em Rocha que Voa e em todos os filmes do diretor procura valorizar a pesquisa, sua busca pessoal e seu esforço por traduzir seu olhar sobre os temas que aborda, encontrando assim, outras formas de representação social em filmes de não ficção.

Em 2009 lançou o documentário “Pachamama”, “que significa para os indígenas andinos “mãe-terra” e designa a deusa agrária dos camponeses – narra a viagem do diretor pela floresta brasileira em direção ao Peru e à Bolívia, onde encontra a realidade de povos historicamente excluídos do processo político de seus países e que pela primeira vez na história buscam uma participação efetiva na construção do seu próprio destino”. Trata-se de mais um filme sensível, no formato road-movie que nos leva a viajar “pela realidade amazônica e andina, que revela um continente em ebulição, perpassado pela cultura milenar andina, que irradia pelo continente sul americano substancia primordial na constituição de novos paradigmas políticos.”

Impossível não lembrar do Viajo porquê preciso, volto porquê te amo de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz que subverte o formato, trazendo um protagonista ausente fisicamente e co m narração em off.

Agora, Eryk nos presenteia com seu primeiro filme de ficção e novamente, procura inovar e criar outras possibilidades cinematográficas de contar uma história com bem poucas palavras, de modo original, rompendo com os estereótipos das narrativas tão presentes no cinema. Novamente Erik investiu na música, na poesia, no eterno preto e branco e mais interessante ainda, abriu uma seleção de atores na internet para compor o elenco do filme, O protagonista interpretado pelo veterano Fernando Bezerra, ator de teatro e cinema está definitivamente maravilhoso no papel do aposentado Expedito e prêmio de melhor ator no Festival de Brasília.
O filme é sobre um aposentado de 65 anos, extremamente solitário sem esposa, filhos e amigos, um homem absolutamente introspectivo, cuja vida se resume às andanças pelas ruas e bares do Rio de Janeiro. Passa grande parte do tempo apenas ouvindo seu rádio, o eterno companheiro. Expedito assume sua condição de peregrino que observa, que olha e vê a vida com olhos de descoberta e nostalgia.
Fomos então brindados com um filme que inaugura a ficção na obra do diretor e só nos resta desejar vida longa à Erik Rocha e a construção de uma certa cinematografia brasileira..



quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Uma Viagem Musical – Rumo à Cumuruxatiba, Guaiú, Joaíma e Jequitinhonha


Tivemos sorte, céu azul, dia bonito, uma longa estrada pela frente, banhada de boa música, nossa linda trilha sonora feita de jazz, bossa nova, rock, MPB sem fim e os queridos amigos, que nos ajudam a viver... Assim partimos, os cinco, de carro, com a cara e a coragem, bagageiro lotado, alguns volumes no colo, sim, eu disse nós cinco, num veículo popular que me fez lembrar o ‘coração de mãe’ onde sempre cabe mais um!

Enfim, o trajeto quase infinito rendeu boas risadas, piadas, contação de histórias e causos inusitados, inventados e verdadeiros pra ajudar a passar o tempo e o longo caminho pela frente.

Decidimos por poucas paradas pra descansar um pouquinho, não muito, queríamos chegar logo, férias é assim, ansiedade, alegria e muita farra... Mas estávamos só no começo, muito chão pra rodar, estávamos apenas começando.

Seguimos até à noite e enfrentamos com coragem a busca incansável por hotéis bons e baratos. Empreitada difícil pra quem já não agüentava mais ficar sentada no banco de trás de um automóvel pequeno, acompanhada de mais duas pessoas, queridas sim, sem dúvida, mas que dividiam comigo o exíguo espaço.

Finalmente a cerveja bem gelada, tão desejada e merecida, no barzinho, no posto de gasolina, onde fosse possível. Agora dormir, esticar o corpo exausto, tomar o gostoso café da manhã e mais estrada, mas agora renovados, alegres e dispostos.
O céu mais azul e outras novas paisagens, já estávamos bem longe de São Paulo, nota-se facilmente. Começam a surgir as lindas montanhas e vamos animados rumo à Cumuruxatiba.

Chegamos na bonita Pousada Cantoria, cheia de flores e cores, ao som da música encantada de Elomar pelo violão cristalino do amigo carinhoso que nos recebe com cachaça boa e pão integral feito especialmente para comemorar nosso encontro. Lembrei do que disse o profetinha ‘Gentileza gera gentileza’.
Mais céu azul e nuvens poderosas que fotografei à exaustão, eu não me lembro de ter olhado para o céu com tanto interesse e paixão... Descobri que amo as nuvens, elas são mágicas, fortes, misteriosas e nunca são as mesmas... Mudam a cada instante, de forma e cor, acho que não as conhecia...

Sol, areia, mar e flores. Beleza pura, num bar de tendas brancas que se transformavam com a luz do lugar, fotografamos, convivemos intensamente, celebramos a amizade com cerveja dourada, cachaça mineira, bons papos e boa música de encher os ouvidos de sons e poesia.


E conhecemos a casa misteriosa, abandonada na areia branca, feita de pedras e conchas do mar, que me fez imaginar um velho marinheiro solitário e louco.

Eis que nasceu a Lis, a pequena netinha, mais uma menina bonita, laço de fita, emocionou a todos e principalmente o vovô que foi obrigado a comemorar e deixar a choro rolar, pois o milagre da vida é assim!

Emoção e mais estrada!!!

A direção agora é Guaiú - onde os amigos novos e antigos aguardam ansiosos nossa chegada com mais música, cachaça, presentes e amizade verdadeira.
Nossos queridos Lara e Valdir mais um bebê a caminho...O Pitoquinho. Bete e Rubão, finalmente conhecê-los, que surpresa boa. Que gente especial!

Uma casa tão bonita, com flores, coqueiros, quintal e luz por todo o canto. A cerâmica da artesã é pura criação e arte, encanta e captura o olhar. O violão que é magia, a música sagrada tão bonita de ouvir e cantar.


Entre comidinhas especiais, risadas e cachaça, a noite chega e com ela os grilos, a lua, as estrelas, o céu claro. Vamos até a pousada D’Ajuda, ao som do forró enlouquecido que grita e alegra toda a gente.


Agora é só dormir, que a manhã já chega. Praia, céu azul, mar e nuvens, cheias, fofas, de contorno forte, quase caindo em nossas cabeças. Fotografias mil!

Mais música, cantoria, violão e cerveja noite adentro. Todos nós rumo à Jequitinhonha, mas que terra é essa? Fomos ao encontro do desconhecido, alegres.
Chegamos ao Festivale, as equipes finalizando os preparativos. Bandeirinhas nas ruas, singeleza. Festa para o povo se divertir e dançar. Música, Música e Música. Sentamos para apreciar a cidade em movimento, o rio tão bonito e inspirador...

Depois, fomos para Joaíma, tenho dificuldade de pronunciar seu nome, porque será?

Chegamos à casa da vovó, puro aconchego. Todos juntos, amizade crescendo, pura festa.
Joaíma, terra onde a Lara cresceu – fotografias sem fim, mil histórias e lendas – mais beleza, flores, sol e céu. Comidinhas mais do que especiais, cerveja e cachaça, boas risadas sem fim e sempre e mais...

Sob o céu de Jequi, foi lá que conheci o céu mais azul, as nuvens mais lindas e poderosas, que não deixavam muito espaço entre nossas cabeças e o céu, que se derramava azul e docemente sobre nós, sobre as montanhas e o rio generoso e fluido.
Artistas, artesanato, músicos, poesia, literatura, sons, Jóias da Terra, encantamento, delicadeza, inúmeros personagens de Jequitinhonha, Minas Gerais.

Dançar, cantar, ouvir, beber, confraternizar, aprender, rever valores, entrar em contato estreito com as coisas simples da vida, aquilo que realmente tem valor, e que levaremos pra sempre no coração... Uma viagem pode abrir novos possibilidades de ser e estar no ‘mundão véio sem porteira’.


E no caminho da roça, além de inúmeras porteiras, encontramos as vacas, a estrada de terra, as flores, os galos e quintais, apreciamos o queijo, o pão integral e o vinho, puro sabor e emoção. Reconhecemos a alegria de poder construir juntos e partilhar. Tomamos um banho num rio límpido, feito de generosidade, caráter e sensibilidade, por pessoas muito especiais que com certeza queremos e precisamos ter por perto, eternamente no coração.


Hora difícil essa de voltar! Despedida. Deixar os agora velhos amigos queridos com quem aprendemos a ser melhores e olhar de outro jeito a vida.

Pegar a estrada de volta, outros céus, outros rumos, os mesmos bons amigos, conversas sem fim, música escolhida a dedo, mais risadas, paradas pra descansar e o forte sentimento de por um momento ter me transportado para um outro mundo, melhor, cheio de luz, alegria e amizades sinceras!

Todos Nós!
















terça-feira, 5 de julho de 2011

Morrer, Renascer, Levitar – Reflexões sobre um Café Filosófico



Wisnik inicia o programa com uma reflexão sobre o processo de elaboração do luto como algo que faz aquilo que perdemos viver em nós, em contraponto, o sentimento de melancolia deixa o eu desertificado, empobrecido, sem valor e desprezível.
Então, fiquei pensando sobre nossa possibilidade e disposição para simbolizar o luto...e afinal, será que a arte é realmente um elemento facilitador no processo de busca de sentido para a vida, diante da ausência do objeto amado?
Sempre achei que diante da morte só nos resta a escolha por viver ou morrer junto com o objeto amado. É tocar a vida em frente, de preferência com alguma alegria ou ficar pra sempre assim, apegado à falta, a espera de um encontro improvável, ou de recuperar o elo perdido.
Assim, me lembrei da canção:

Existir a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina.

E eis a canção e a literatura como ferramentas para significar a perda e enfrentar a melancolia, ou seja, o mundo pode cair, mas o sujeito continuará lá inteiro, levitando, ele é responsável por si mesmo, é o único responsável pelo seu desejo, e por salvar-se a si mesmo.
Não podemos esperar que um outro o faça... isso remete à idéia de que toda e qualquer situação vivida está diretamente relacionada com as escolhas particulares conscientes ou não que fazemos dia após dia.
Portanto, viver ou não viver o luto trata-se de uma escolha subjetiva, de sobreviver ao luto que fazemos. Entrar em contato com a própria finitude e fragilidade, lembrar que a única certeza que temos é a morte.
Se deparar com a perda significa perguntar-se sobre nossas escolhas. Significa buscar uma força misteriosa que permita continuar a travessia ou se entregar, interromper a caminhada, e então morrer com o objeto perdido.... se entregar ao sem sentido.
Elaborar um luto exige uma postura de desapego, que não quer dizer amar menos, mas amar enquanto é possível compartilhar a vida e afinal, temos a memória, peça fundamental na relação contínua e ininterrupta entre passado e presente. Porque a memória sim é eterna como matéria líquida que ocupa nosso corpo e nos faz existir.
A presença e a ausência são as principais matérias da memória. A poesia acolhe a melancolia e a dor de existir, na medida que lhe dá nome, lhe significa, lhe descobre o sentido e significados.
Precisamos de silêncio para viver nossa própria tragédia. É necessário entrar em contato com a própria dor, com as perdas... As grandes cidades, suas impossibilidades e a velocidade feroz presente nos pequenos detalhes, a urgência, a violência e agressividade que exercemos em relação aos outros, revela e reforça nossa própria fragilidade, nossos medos.
Experiências sem lugar, perdidas no espaço desconhecido. “Tudo ao mesmo tempo, agora”. Frenesi. O luto como história contada e vivida, isso é a elaboração possível.
E lembro aqui a letra tão melancólica de Chico Buarque:

“A saudade é o pior castigo e eu não quero levar comigo a mortalha do amor... Adeus!”

(Reflexão sobre a Série Meu Mundo caiu com Zé Miguel Wisnik no Café Filosófico da CPFL. Curadoria de Renato Janine Ribeiro.)

http://www.cpflcultura.com.br/site/2010/07/21/cafe-filosofico-cpfl-eu-que-aprenda-a-levitar-jose-miguel-wisnik/