quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Cinema e solidão


 
Pra mim, ir ao cinema nunca foi um programa cultural coletivo. Não consigo entender essa coisa de enaltecer o cinema com o algo que se faz em grupo, ou ainda, que existe na sala escura um compartilhamento de emoções...Acho muito estranho.

Pra mim, ir ao cinema é algo totalmente particular, que envolve questões super íntimas e portanto, é algo que faço de modo totalmente solitário. Ir ao cinema acompanhada só pode ser por alguém com quem eu tenha muita intimidade, o suficiente pra não me sentir obrigada a tecer comentários sobre o filme.... ou ao contrário, alguém que possa suportar minhas considerações e impressões que jorram sem muitos critérios depois de ser tomada pela história contada...

Não poso compreender essa coisa de ‘vamos todos ao cinema? Um bando de amigos?’. Adoro encontrar meus amigos nas festas, ou nos bares, pra conversar e beber, jogar conversa fora e dar risada, mas ir ao cinema acompanhada de muita gente, acho da ordem do impossível... E mais engraçado ainda é se interessar por alguém e convidá-lo pra ir ao cinema... Não seria melhor ir para um lugar onde fosse possível conversar???

No meu modo de ver, Ir ao cinema, significa entrar em contato com coisas profundas, difíceis ou prazerosas que o filme vem para atualizar em mim... e isso inclui todos os rituais, ou seja, o café antes e quem sabe depois, assistir os terríveis traillers barulhentos, a bala para adoçar a vida, uma água em caso de necessidade e assistir os créditos finais, até o final mesmo, principalmente pra ver de quem é a trilha sonora, um interesse à parte.

Não gosto desse negócio de lugar marcado, na verdade, detesto, sabe porquê? Porquê dependendo de quem senta perto de mim, eu acabo mudando de lugar, seja por causa da pipoca, ou o ruído, a conversa paralela, o celular... Não curto ir ao cinema no final de semana, quando as salas estão mais cheias, bom pro cinema, péssimo pra mim...

Trata-se mesmo de um ritual, coisa mágica que não tem a ver com a reunião de pessoas estranhas numa sala, nunca estou acompanhada, estou sempre completa e profundamente  sozinha nas salas de cinema e é assim que posso fruir a obra... Não me venha falar de coletividade ou de partilhamento, as salas escuras propõem um encontro consigo mesmo, cinema é sonho e os sonhos são sempre particulares...

Por isso, gosto mesmo de ir ao cinema no meio da semana, tranquila, salas vazias, meu ritual começa logo cedo, com a escolha do filme, uma decisão... e meu dia fica completamente pautado nessa pequena decisão, depois pegar um ônibus, o metrô e ao entrar na sala escura deixar todos os problemas, tristezas e preocupações de lado, muito longe daquela sensação mágica de viver uma outra história, do desejo de querer ser aquele personagem especial, das identificações e inúmeras emoções que trazem à tona uma história longínqua particular e tão importante...

Pra  mim, cinema é isso... o encontro comigo mesma, algo solitário e revelador, é isso que o ato de ir ao cinema representa pra mim, pois a questão fundamental é perguntar o que é que cada filme sabe sobre a minha vida e para obter essa resposta, tenho que me permitir e garantir uma boa dose de introspecção... e silêncio, antes e depois e durante algum tempo....

terça-feira, 17 de julho de 2012

Curtir ou não curtir, eis a questão!



Sim, devo dizer, eu ‘estou’ no facebook e esse texto começou a acontecer quando depois de responder atenta e longamente ao questionamento de um amigo na rede, recebi como retorno  um ‘curti’.

Fiquei pensando: ‘Como assim? E daí? Curtiu o quê? Não entendi... Seria talvez o meu envolvimento e esforço em tentar responder da melhor forma, problematizando, ponderando, relevando.... pensei que a conversa continuaria, mas que nada, passou, tudo muito efêmero...

Não sei, achei estranho e fiquei pensando nas redes sociais.

Pensei na sensação agradável, inevitável de fazer parte de um grupo de pessoas antenadas, inteiradas, bem informadas (ainda que essa informação muitas vezes seja pueril e rápida demais), em como somos poderosos quando temos acessos garantidos e isso por si só parece ser suficiente pra preencher nossa vida e eliminar qualquer questão existencial que por ventura possa existir. Eu só sei que tenho muitas, inúmeras...

Engraçado, mas fiquei pensando que realmente nos sentimos menos sozinhos quando estamos conectados, afinal temos centenas de amigos, certo?

Mas é claro que não há novidade nessa reflexão, muitos já falaram sobre isso, continuam falando e nós continuamos navegando, nos ‘encontrando’ no mundo virtual, sempre e cada vez mais. Caminho sem volta!.

Fiquei pensando se as redes permitem de fato o reconhecimento das diferenças ou se apenas as anulam, na verdade, é importante entender a diferença e não negá-las, aprender a conviver na diversidade e temo que estejamos cada vez nos distanciando mais do outro.

Daquele outro que nos olha nos olhos, com o qual nos deparamos nas adversidades e compartilhamos as rabugices, aquele que coloca seu corpo na relação, sua energia, sua palavra... com quem tomamos uma cerveja, para quem enviamos um postal, discutimos um livro, um filme, sinto falta dessas coisas...

Eu estava dentro de um ônibus, chovia lá fora, muito... abri a janela, me senti livre, com o vento frio batendo no rosto e os pés encharcados de chuva. Não sei porquê, mas pensei que nada poderia superar o prazer de ver o asfalto molhado refletindo as luzes coloridas... Engraçado.

Fui a livraria comprar um livro e pensei que poderia ter feito isso via internet, mas que nada! O vendedor, jovem, atencioso revirando todas as prateleiras, desafiado que estava a encontrar o livro raro, cujo exemplar era o último em todas as lojas. Nada poderia pagar a satisfação, a atenção e a simplicidade desse encontro.

Enfim, esperei bastante, torci para que o livro fosse encontrado, perdi a sessão de cinema, folheei alguns livros, o vendedor se desculpou pela demora, pediu meu telefone para avisar quando encontrasse  aquela raridade.... um fofo!

Achei bacana ter caminhado na chuva até a livraria e ter ‘conhecido’ o jovem vendedor de livros... poderia ter sido diferente, poderia ter sido virtual, mas foi assim.

Continuava a chover, muito, torrencialmente, entrei num café, comi um bolo divino e continuei caminhando na chuva, em direção ao metrô, agora para casa.

Fiquei pensando nas ‘centenas de amigos’ que tenho no face... Achei estranho, pensei onde estariam naquele momento....

Estava muito frio na avenida paulista, continuei o trajeto através da chuva, mas posso dizer com convicção que afinal, curti!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

A Viagem

Eis o inevitável Big Ben, imponente, lindo!









Roda Mundo, Roda Gigante!






Canden Town - Incrível...


 Um por do sol inesquecível!






Eu e a Gisela....


O Belíssimo teatro do Round House


A incrível árvore de todos os povos do Alex, no South Bank


A vista da Tate Modern


 A Taverna




 O maravilhoso British Museum


Arredores do Museu


Meu amiguinho surpresa!!!















Um festival de música afro brasileira, Luiz Melodia, Emicida, Marcelo D2 e Martinália... Gostoso de ver e ouvir...


'Tente usar a roupa que estou usando...'


Inevitável!


 Vitoria e Albert Museum











quarta-feira, 30 de maio de 2012

Legião, há tempos...


Pôxa, faz tempo que não apareço por aqui... Mas agora, é inevitável... Desculpem, mas estou assistindo Tributo ao Legião Urbana.
Bom, tudo bem, esse é o meu lado eternamente adolescente. Amo Legião, desde sempre.
Adoro Renato Russo e sua voz e suas canções tristes e tão contundentes. Eis aí um cara que falou para os jovens... Nunca esquecerei da tristeza imensa quando soube da sua morte, e o disco Tempestade, cheio de poucas e boas verdades....
Que voz, eterna voz.... Legião foi sim uma das bandas mais importantes que já vimos por aí...
Engraçado, mas Agora esse tributo, envolvendo um ator que pra mim é um dos maiores... Competente, sério, que eu tanto gosto.
É inevitável perceber a emoção com que  Wagner Moura abraçou essa missão... Sim,  missão...
Interpretar as canções que ficaram grudadas na nossa cabeça e eternizadas em nossos corações quando fechamos os olhos e ouvimos Renato Russo...
É preciso ter muita coragem e amor.
Wagner não canta nada... é excelente ator, ser humano inteligente e sensível e provou com tudo isso o quanto ama o Legião Urbana.
Lindo de ver...
Mais lindo ainda são as mais de sete mil, pessoas, gritando e cantando junto com Wagner Moura, sem se preocupar com o fato dele estar ali, mas todos cantando em uníssono todas as canções da Banda.
Mais uma vez, Wagner Moura provou que sabe muito bem mudar de papel, não adere jamais à figura de galã e faz o público esquecer quem ele é... Não se preocupou em imitar Renato Russo, ao meu ver, decisão mais do que inteligente. Não é possível imitar Renato, de jeito nehum...
Então, temos o ator, propondo ao grande público jovem, uma certa rememoração, reviver, nostalgia e aquela saudade incrível.
Pelo que vi, também havia dentre as sete mil pessoas, jovens que talvez tenham nascido depois da morte de Renato Russo e que portanto, conhecem as músicas (todas) porque ouviram seus CDs.

Enfim, não pude mudar de canal... Embora eu seja já bem 'velhinha', quantas coisas vivi, embaladas pelas canções da Legião Urbana. Jamais vou esquecer... Adoro ouvir as letras e ainda me emociono com elas...
Écomo eu disse, essa é a juventude que ain da vive em mim.
Fico agradecida por ter visto isso.... pela coragem dos meninos (Dado e Bonfá) em terem topado esse reviver, pela coragem do Wagner Moura que permitiu que o público (tão jovem) se encontrasse com o espírito de uma das bandas mais importantes que já conhecemos no Brasil.
E parece que verdadeiramente a Legião Urbana deixou marcas indeléveis na sua, na minha e também na vida de Wagner Moura..... Sem dúvida!
E Renato vive, ainda e sempre!

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O cinema nosso de cada dia!



Aproveitei o final de semana pra colocar em dia os filmes que queria muito assistir, evidentemente o tempo parece insuficiente para a realização de tal empreitada. São muitas estréias, muitos filmes em cartaz prestes a sumirem das telonas e ainda os candidatos ao Oscar... É... acredite, eu ainda insisto, não sei bem porquê, mas lá no fundo tenho esperança de encontrar um grande filme por ocasião dessa (cada vez mais esdrúxula) premiação!
Tenho a impressão que essa foi a última vez...

Fui assistir Descendentes, devo confessar que muito motivada pela figura de George Clooney que aprecio, não apenas a beleza, mas também o ator....
Decepção... o filme é muito ruim, e especialmente a atuação do referido ator é péssima.

Sempre com uma cara de canastrão, que não convenceu de modo nenhum. Trata-se de um drama familiar, mas o maior problema é que não consegui acreditar nos personagens, tudo muito forçado, inverossímil e péssimas atuações.... Talvez a mais interessante, paradoxalmente, seja a da mulher, esposa e mãe que esteve em coma durante todo o filme – imóvel, um verdadeiro cadáver... (nela eu acreditei)
E não sei o que acontece, penso se serão os americanos, que não conseguem substanciar os temas de seus filmes, ou ainda produzir significados.... não sei...

O filme foi rodado no Havaí, paisagens maravilhosas, a história não é ruim, ‘um casal em crise, a mulher sofre um acidente, eles tem duas filhas que ficarão órfãs’.
Acredito que é possível desenvolver bem a psicologia dos personagens em torno de algo assim, no entanto, pairou sobre o filme um certo riso fora de hora, não sei se na tentativa de tornar mais leve o drama, ou se por equívoco de direção.... Mas o fato é que não combinou e ficou difícil acreditar nos personagens...

É preciso dizer que entre mortos e feridos, salvaram-se as crianças que conseguiram transmitir alguma emoção....

Mas é difícil entender porquê um filme como esse mereceria um Oscar, sofrível.... Adequado para uma boa ‘sessão da tarde’ em dia chuvoso!
Não contente, resolvi arriscar mais uma vez, acreditem, fui ver o tão comentado Millennium – Os Homens que não amavam as mulheres. Pois é.... um repórter e uma jovem investigadora problemática se unem para investigar um crime. É bonito de ver, bem filmado, lindas paisagens cores acinzentadas de acordo com o clima proposto. O ator principal é tão frio quanto a neve que inundou as telas, a atriz está tão caracterizada como punk que fica difícil saber se o mérito da interpretação está nela como atriz ou no peso de sua aparência (piercings, tatoos, brincos, tinta preta no cabelo, maquiagem carregada e talvez uma lente de contato que tornava seus olhos quase brancos....) O fato é que Millennium tem 5 Indicações ao Oscar: Melhor Atriz (Rooney Mara), Fotografia, Montagem, Edição de Som e Mixagem de Som. Tenho muitas dúvidas. O que parece ser significativo para a indicação, é que O filme é baseado no primeiro romance da trilogia que vendeu um total de 50 milhões de exemplares em 46 países e se tornou um fenômeno mundial.

Também não me convenceu... Filme bastante longo, parece que se tornou uma regra na indústria cinematográfica....

Continuei com aquela sensação de que nada havia valido a pena, a correria pra chegar no horário, o dinheiro gasto com os ingressos... Ufa!

Então, resolvi mudar o foco e deixar os indicados ao Oscar de lado, chega de bobagem, e lá fui eu ao CineSesc (que alívio) e assisti o delicado O pai dos meus filhos. Concluo que crianças em filmes têm uma chance enorme de dar certo, quando bem dirigidas, sucesso total!

Assim como Descendentes, trata-se de um drama familiar, um segredo e um homem que sofre, mas aí sim, tudo faz sentido, as histórias se entrelaçam e os personagens entregam-se à história e finalmente me emocionei. Um empresário bem sucedido porém arrebatado pelo trabalho, se perde e põe tudo a perder. Lindas paisagens, ótimos atores, um ótimo enredo e nada de Oscar... é claro!

Bom, finalmente, pra fechar o final de semana com chave de ouro, assisti Separação, um filme redentor, provavelmente barato, com atores espetaculares, mais um pouco do excepcional cinema dos iranianos, um filme extremamente complexo, com suas questões existenciais e políticas, sempre problematizando o mundo, a ausência de ética, os conflitos, os afetos.

Um filme cheio de antagonismos, duas mulheres, dois homens, duas crianças, onde todos sofrem, num país sem lugar para a diferença. O forte desejo de sair (fugir?), o medo, a insegurança e uma decisão a tomar.... Este, concorre ao prêmio de Melhor filme de língua estrangeira... vamos ver!!!

Os Descendentes.2011.EUA. 115min. Direção: Alexander Payne.Elenco: George Clooney, Shailenne Woodley.

Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres. EUA / Suécia / Reino Unido / Alemanha. 158min. Direção: David Fincher. Elenco: Daniel Craig e Rooney Mara.

O pai dos meus filhos. França/Alemanha. 110 min. Direção: Mia Hansen-Love. Elenco: Louis-Do de Lencquesaing, Chiara Cavelli, Alice de Lancquesaing, Alice Gautier.

Separação. Irã. 2011.123min. Direção: Asghar Farhadi. Elenco: Peyman Maadi, Leila Hatami.


Costumo dizer que cinema é assim, a gente tem que acreditar que aquela história está acontecendo diante de nós, temos que ser cúmplices, nos emocionar, torcer pelos personagens...