Sim, devo dizer, eu ‘estou’
no facebook e esse texto começou a acontecer quando depois de responder atenta
e longamente ao questionamento de um amigo na rede, recebi como retorno um ‘curti’.
Fiquei pensando: ‘Como
assim? E daí? Curtiu o quê? Não entendi... Seria talvez o meu envolvimento e
esforço em tentar responder da melhor forma, problematizando, ponderando,
relevando.... pensei que a conversa continuaria, mas que nada, passou, tudo
muito efêmero...
Não sei, achei
estranho e fiquei pensando nas redes sociais.
Pensei na sensação agradável,
inevitável de fazer parte de um grupo de pessoas antenadas, inteiradas, bem
informadas (ainda que essa informação muitas vezes seja pueril e rápida demais),
em como somos poderosos quando temos acessos garantidos e isso por si só parece
ser suficiente pra preencher nossa vida e eliminar qualquer questão existencial
que por ventura possa existir. Eu só sei que tenho muitas, inúmeras...
Engraçado, mas fiquei
pensando que realmente nos sentimos menos sozinhos quando estamos conectados, afinal
temos centenas de amigos, certo?
Mas é claro que não há
novidade nessa reflexão, muitos já falaram sobre isso, continuam falando e nós
continuamos navegando, nos ‘encontrando’ no mundo virtual, sempre e cada vez
mais. Caminho sem volta!.
Fiquei pensando se as
redes permitem de fato o reconhecimento das diferenças ou se apenas as anulam,
na verdade, é importante entender a diferença e não negá-las, aprender a
conviver na diversidade e temo que estejamos cada vez nos distanciando mais do
outro.
Daquele outro que nos
olha nos olhos, com o qual nos deparamos nas adversidades e compartilhamos as rabugices,
aquele que coloca seu corpo na relação, sua energia, sua palavra... com quem
tomamos uma cerveja, para quem enviamos um postal, discutimos um livro, um
filme, sinto falta dessas coisas...
Eu estava dentro de um
ônibus, chovia lá fora, muito... abri a janela, me senti livre, com o vento
frio batendo no rosto e os pés encharcados de chuva. Não sei porquê, mas pensei
que nada poderia superar o prazer de ver o asfalto molhado refletindo as luzes
coloridas... Engraçado.
Fui a livraria comprar
um livro e pensei que poderia ter feito isso via internet, mas que nada! O
vendedor, jovem, atencioso revirando todas as prateleiras, desafiado que estava
a encontrar o livro raro, cujo exemplar era o último em todas as lojas. Nada
poderia pagar a satisfação, a atenção e a simplicidade desse encontro.
Enfim, esperei
bastante, torci para que o livro fosse encontrado, perdi a sessão de cinema,
folheei alguns livros, o vendedor se desculpou pela demora, pediu meu telefone
para avisar quando encontrasse aquela
raridade.... um fofo!
Achei bacana ter
caminhado na chuva até a livraria e ter ‘conhecido’ o jovem vendedor de
livros... poderia ter sido diferente, poderia ter sido virtual, mas foi assim.
Continuava a chover,
muito, torrencialmente, entrei num café, comi um bolo divino e continuei
caminhando na chuva, em direção ao metrô, agora para casa.
Fiquei pensando nas ‘centenas
de amigos’ que tenho no face... Achei estranho, pensei onde estariam naquele
momento....
Estava muito frio na avenida
paulista, continuei o trajeto através da chuva, mas posso dizer com convicção que
afinal, curti!