sexta-feira, 26 de abril de 2013

Ontem é um lugar que não existe....

 
O filme Hoje de Tata Amaral traz a tona muitas questões fundamentais para a história do país, como as infinitas arbitrariedades da ditadura militar e suas torturas que mataram tantas pessoas e condenaram suas famílias ao sentimento eterno de dor, dúvida, culpa, abandono e esquecimento.
Mas fiquei pensando sobretudo, num aspecto muito elementar e talvez o mais importante de ser compreendido e incorporado por todos aqueles que vem acompanhando os trabalhos da comissão da verdade, com o intuito de esclarecer os acontecimentos e responsabilizar devidamente os assassinos e toturadores que agiram com o aval do governo.
Esse ponto é que ao falar da ditadura, não estamos falando de um passado, mas muito ao contrário, estamos completamente focados no presente, pois não é possível pensar nesse período histórico como apenas uma lembrança longinqua ou como fato esquecido. Nós continuamos impregnados dessa história triste, aqui e agora....
As feridas continuam abertas e sangrando... Apesar disso, a impunidade ainda prevalece.
A dor e a dúvida dos familiares continuam vivas.
O filme enfrenta o desafio de materializar aquilo que poderia ser representado como passado...
O personagem que participou da guerrilha retorna ao tempo presente... reencontra sua companheira de luta e de vida... Ele retornou mesmo? Como? Não morreu? Onde ele estava? Como sobreviveu?
Ou será que é um sonho? Uma alucinação da companheira que ainda sofre sua ausência??
Essa situação ambígua causa desconforto no espectador, confunde, porque quer confundir...
Ele voltou, não voltou, porque não havia ido embora nunca, pelo menos na memória de quem ficou, será?
Pra quem ficou, além da vida pra viver, resta a dpuvida, a culpa, a solidão que assombra todos os dias durante tantos anos...
A tristeza e a incerteza de não saber, de não compreender e a vontade de desisitir pra pode continuar vivendo...
De quaqluer modo é preciso elaborar a dor, olhar com certa distância para situações de extema opressão para só assim conseguir conviver com as feridas abertas no caminho da elucidação e da justiça que pretendemos alcançar no tempo presente. Hoje!

Menoridade Penal??? Porquê???

 
Tenho achado tudo muito difícil hoje em dia, quero dizer, as relações ou a impossibilidade delas, difícil estabelecer diálogos, difícil conviver com as diferenças, tristeza, solidão, violência... Serão os novos tempos?  Ou apenas um sentimento de nostalgia, que talvez eu devesse descartar.
Comecei a pensar em como é complicado tentar entender o que leva um jovem a matar friamente outro jovem, porque um jovem universitário atropela um jovem trabalhador e não se detém para socorrê-lo e quem sabe assim, evitar o pior...
Então penso nas famílias, nas dores, no sofrimento que resulta dessa espécie de barbárie que vivemos. Há algum tempo atrás, era comum ouvir dizer que os jovens das periferias, pobres e sem acessos representavam uma ameaça, eram quase que naturalmente agressivos e com enorme chance de praticar violência contra outras pessoas provenientes dos lugares masi privilegiados da cidade....
Idiotice pura...
Hoje tudo mudou, não existe mais a lógica cartesiana ou dicotômica com a qual pretendíamos compreender o mundo. então, o que parece é que, no que tange a violência urbana, temos que çpensar em como se estabelecem as relações no campo da cidade, com suas diferenças, em relação aos direitos civis, segurança pública, valores e por aí vai.... A violência contra os cidadãos não é proveniente dos jovens que aliás são as maiores vítimas inclusive da polícia que vem barbarizando em relação aos jovens negros e pobres principalmente, mas não só.
Em que cidade vivemos? Como os espaços se preparam para receber os meninos e meninas da cidade. Que políticas públicas são pensadas para minimizar as distâncias e injustiças?
Como os preconceitos e discriminações são praticados no cotidiano das cidades e quem são esses atores? Qual é a posição da escola, dos parques, das instituições de acolhimento dos equipamentos culturais em relação ao público juvenil? Nós acreditamos que podemos contribuir para reverter uma situação de marginalização do jovem e não apenas do jovem de baixa renda, pois o que parece é que o simples fato de ser jovem soa como uma provocação e preferimos pensar na juventude como uma espécie de doença que logo vai passar e estaremos livres desse vírus....
Sendo assim, seria imprescindível, refletirmos sobre a vida nas cidades, em todas as suas dimensões, na perspectiva da mudança e da melhoria da qualidade de vida de todas as pessoas.... Mas ao invés disso, preferimos nos organizar para lutar pela Menoridade Penal, como se aí estivesse a solução para todos os nossos problemas, como se todos os crimes fossem praticados por adolescentes, como se com a menoridade penal estivéssemos resgatando a paz social, finalmente!
Mas não nos organizamos para lutar por uma polícia menos violenta e mais qualificada, ou por mais parques na cidade, ou por uma educação de qualidade e tantas outras questões fundamentais para a vida de todos nós, sem exceção.
Enfim, parece que essa é a única forma que fomos capazes de encontrar 'educar' nossas crianças... parece muito pouco... Achamos que assim resolveremos um problema social e aplacaremos a dor das famílias que perderam seus filhos.
Me parece que por um momento, perdemos totalmente o foco da discussão...
Me sinto profundamente triste com tanta violência...
Penso no futuro, futuro???
Penso no presente.... que presente???
O que querem os jovens?
Que queremos nós?
 
 

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A dança e o rito de passagem


 
Rania, rainha. Uma menina vivendo numa periferia da cidade grande, perto do mar, um pai pescador, uma família com problemas bastante comuns a grande parte da população.
Pais separados, , irmãos envolvidos em dificuldades e confusões.

Mas, o eixo de toda a história é a enorme vontade de sair, fugir, voar para outras paragens e novas realidades, outras perspectivas e aprendizados, ampliar os horizontes...
Ao mesmo tempo, Rania tem plena consciência de que é a única responsável por si mesma, por sua alegria e, sobretudo por suas escolhas.

Nesse sentido, é extremamente madura, determinada, ao mesmo tempo em que permanece sensível e generosa em relação á sua família.
Mas o que chama a atenção no filme é o quanto a personagem Raina consegue manter o foco, sua delicadeza em afirmar a escolha pela dança como um caminho de superação.

A dança é de fato o fio condutor da sua vida, o que alimenta e anima a existência, seu corpo e sua alma..
São belíssimas as cenas em que ela dança, graciosamente mas com a força da sua inspiração, quase como metáfora, um corpo que se movimenta na direção do desejo, no ímpeto de marcar seu lugar no mundo.

O filme é isso, a história de uma garota e sua paixão pela dança na busca por construir um universo diferente onde seja possível ser feliz.
Trata-se de um momento especial, a saída de uma experiência de dependência extrema, para assumir seus riscos, ousar e cair na vida por sua própria conta.

O final da história fica em aberto, mas eu prefiro crer que Rania tornou-se sim a dona do seu caminho, soube se impor, soube exercer ainda mais a liberdade das escolhas, embora com dor, como sempre são os ritos de passagem.