domingo, 30 de junho de 2013

HiperReal


 
Há um ano e sete meses ando às voltas com a série HiperReal composta por 52 episódios sobre culturas juvenis, um tema que me é bastante caro. Primeiro, a tarefa de assistir

os 52 programas, depois escrever sinopses e mais ‘mil’ resumos estendidos de cada filme, para deixá-los bem vivos na memória e principalmente para compartilhar com aqueles que ainda não assistiram. Depois disso, repetidas leituras de textos que ajudem a articular todo esse extenso e tão denso conteúdo.

Alguém já disse,  que a gente se apaixona pelo objeto de estudo, acredito que não daria pra ser de outra forma, claro! Não foi diferente comigo, ainda bem....

Paixão sim, mas uma paixão completamente inquieta, cheia de dúvidas, incompreensões e alguns insights aqui e acolá... Fiquei pensando nesses processos de aproximação e distanciamentos que vivemos em relação a esses objetos de amor que tomamos nas mãos.

A obra de Kiko Goifman me acompanha há algum tempo, ou melhor dizendo, eu escolhi acompanhar sua obra  mais de perto...e vivem povoando meus pensamentos, minhas conversas e atualmente minhas percepções sobre juventudes.

A série me ajudou a compreender de outra forma o conceito de juventude e corroborou outras tantas impressões que eu já tinha...

Antes do HiperReal, mergulhei no 33 e em Filmefobia. O primeiro um belo filme de busca, estilo noir cheio de suspense e ironia. E assim, tudo misturado e híbrido, uma marca na cinematografia do diretor.

Só me resta agradecer por essas experiências reflexivas em torno do cinema, do documentário brasileiro e pela oportunidade que os filmes nos dão para refletir as coisas da vida também, e porque não?

Todas as vezes eu achei que não ia conseguir chegar ao término do processo, fiquei com medo e aquele friozinho na barriga, mas devo dizer que tudo deu certo, o aprendizado foi grande, acho que amadureci um pouco mais e hoje me sinto novamente assim, mas com uma única certeza, de que os produtos audiovisuais sempre me encantaram e sigo assim.

HiperReal impregnou minha vida, meu olhar, meus dias.

Tomara que eu consiga e saiba fazer o melhor com isso...

Kiko fez coisas imprescindíveis, recentemente como Olhe para mim de novo em parceria com  sua mulher Claudia Priscilla, fizeram também Vestido de Laerte, agora com uma pequena participação como ator...

Um pouco antes disso, algo bastante significativo ainda no campo da juventude foi o filme Fome de Viver para o SESC TV, em parceria com o SESC Ipiranga, com meninos que não podiam revelar sua identidade mostrando o rosto e para resolver esse impasse, Kiko sugeriu a construção de máscaras que serviram também para protegê-los.

Enfim, são mil coisas pululando por aí e gosto da ideia de me aproximar daquilo que não compreendo e que me intriga. Sei que termino por sair dessas histórias com  um pouco mais de clareza e a esperança de ter contribuído de algum  modo, para qualquer pensamento um pouco mais elaborado e diverso sobre juventudes, graças ao Kiko Goifman, cujo olhar sobre as culturas juvenis, melhorou o meu....

 

 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

SONHO DE CRIANÇA

 
 
 
Quem nunca sonhou com uma bicicleta? Que garota nunca sonhou em pintar as unhas, de preferência longas e vermelhas?, ou ainda cortar os cabelos de acordo com a moda vista através da janela chamada televisão, nos filmes , nas novelas, nas propagandas.
Wadja queria apenas uma bicicleta, porque queria competir numa corrida com seu melhor amigo.
 
Wadja é esperta, soube utilizar-se de muitos subterfúgios para alcançar seus objetivos, melhor dizendo, seu único e primordial objetivo te ter a bicicleta proibida.
Sim, proibida, para as meninas, como forma de impedir a perda acidental de sua virgindade.... Acredite se quiser!
Trata-se da cultura do diverso,  e nós por aqui com nossa 'mochilinha de porquês'.
 
Saí do cinema carregando uma dessas, só que bem grande...
O filme foi dirigido por uma mulher (Al Mansour), fato inédito na Arabia Saudita, quase impossível. Portanto, uma conquista em conteúdo e forma. Nos prestou enorme serviço ao compartilhar  um aspecto de uma realidade cultural tão complexa e adversa.
O filme é extremamente sensível, singelo, delicado e acertivo na abordagem.
A atriz mirim, é realmente magnífica e inesquecível.

ELENA


Eis um filme doloroso, profundo que dói fundo na alma...

Nem acho que o filme pretendesse ser isso, mas apenas é.. e foi assim que assisti estarrecida toda essa profusão de sentimentos transformados em imagens, contundentes, que de fato, falam mais do que qualquer palavra.

A questão da memória presente em cada pedacinho da história, um filme feito de fragmentos, registros e saudades.

Um filme para elaboras as perdas, as culpas e a incrível dor de ter perdido alguém tão especial.

Elena deve ter sido encantadora, ousada, atrevida, corajosa e extremamente sensível, por isso não aguentou.

No fundo, ela amava as coisas da vida. Por outro lado teve sua existência marcada por ter sido obrigada a uma infância  clandestina. O filme mostra o peso dessa repressão que vemos crescer no seu percurso.

Elena, constantemente inquieta, ansiosa, angustiada, mas forte até o fim!

Petra, a diretora,  também encanta pela delicadeza com que se expõe para contar essa história que também é sua...

Quanta doçura, quanto afeto, e a coragem de compartilhar a leitura de um caminho tão íntimo...

Petra é uma cineasta jovem que soube como ninguém transformar seu próprio sentimento e sua experiência afetiva  em imagens que comovem. O filme é isso, pura emoção, somos convidados a fruir as lindas imagens, ainda que nas profundezas de uma triste história!

 

O caminho se faz ao caminhar...


Agora não vou escrever sobre nenhum filme, vou falar sobre uma cena cotidiana que talvez resultasse num ótimo roteiro cinematográfico.
Já faz alguns dias que ao ir caminhar no Parque próximo de onde eu moro, encontro uma figura interessante, uma personagem mesmo...
Não sei quem ela é,  mas enquanto caminho, fico imaginando milhões de possibilidades para aquele ser inusitado...

Entro no parque por volta das 8h da manhã, ando alguns metros e derrepente sinto o perfume inconfundível.
Muito provavelmente, trata-se de um talco, daqueles que se vendia em caixinhas  mimosas, quadradas ou redondas, acompanhados de uma esponja peludinha e macia que servia para polvilhar aquele pó fininho sobre o corpo, depois do banho.

Engraçado isso, acho que essa reminiscência vem da minha infância, graças a uma tia querida, linda, que adorava se perfumar e se embelezar.
Ela tinha uma penteadeira encantadora para mim, repleta de lindos frascos de perfumes diversos, de todas as formas e cores.

Então, voltando ao parque, entro e sinto esse aroma inconfundível e vejo, logo adiante, uma senhora de mais ou menos 78 anos cabelos escuros, presos com uma fivela prateada, trajando calças compridas de tergal, uma camisa de seda florida e um coletinho por cima, calça sapatos de couro bem sem saltos.

Leva nas mãos uma sacolinha de papelão com qualquer coisa dentro, anda curvada mas disposta e percorre os 1500 metros da pista de cooper. Caminha bem lentamente, como se aquele caminho fosse leva-la  a algum lugar especial.

E lá vai ela, bem devagarinho  mas determinada, solitária mas aparentemente satisfeita.
Também sigo caminhando e sei que ela ainda está no parque pois continuo sentindo o aroma persistente do seu perfume.

Não sei porque, mas acho tudo muito nostálgico, ainda que  ao mesmo tempo singelo vê-la todos os dias a caminhar...
Estará em busca de que?  Pensa em que? Onde ela mora? Com quem?

Terá uma penteadeira cheia de frascos? Terá uma família?
Enfim, de pensar assim, olho no relógio e vejo que já caminhei quase uma hora e percebo que ela já se foi, com seu perfume....