Pra
mim, ir ao cinema nunca foi um programa cultural coletivo. Não consigo entender
essa coisa de enaltecer o cinema com o algo que se faz em grupo, ou ainda, que
existe na sala escura um compartilhamento de emoções...Acho muito estranho.
Pra
mim, ir ao cinema é algo totalmente particular, que envolve questões super
íntimas e portanto, é algo que faço de modo totalmente solitário. Ir ao cinema
acompanhada só pode ser por alguém com quem eu tenha muita intimidade, o
suficiente pra não me sentir obrigada a tecer comentários sobre o filme.... ou
ao contrário, alguém que possa suportar minhas considerações e impressões que
jorram sem muitos critérios depois de ser tomada pela história contada...
Não
poso compreender essa coisa de ‘vamos todos ao cinema? Um bando de amigos?’.
Adoro encontrar meus amigos nas festas, ou nos bares, pra conversar e beber,
jogar conversa fora e dar risada, mas ir ao cinema acompanhada de muita gente,
acho da ordem do impossível... E mais engraçado ainda é se interessar por
alguém e convidá-lo pra ir ao cinema... Não seria melhor ir para um lugar onde
fosse possível conversar???
No
meu modo de ver, Ir ao cinema, significa entrar em contato com coisas
profundas, difíceis ou prazerosas que o filme vem para atualizar em mim... e
isso inclui todos os rituais, ou seja, o café antes e quem sabe depois,
assistir os terríveis traillers barulhentos, a bala para adoçar a vida, uma
água em caso de necessidade e assistir os créditos finais, até o final mesmo,
principalmente pra ver de quem é a trilha sonora, um interesse à parte.
Não
gosto desse negócio de lugar marcado, na verdade, detesto, sabe porquê? Porquê
dependendo de quem senta perto de mim, eu acabo mudando de lugar, seja por
causa da pipoca, ou o ruído, a conversa paralela, o celular... Não curto ir ao
cinema no final de semana, quando as salas estão mais cheias, bom pro cinema,
péssimo pra mim...
Trata-se
mesmo de um ritual, coisa mágica que não tem a ver com a reunião de pessoas
estranhas numa sala, nunca estou acompanhada, estou sempre completa e
profundamente sozinha nas salas de
cinema e é assim que posso fruir a obra... Não me venha falar de coletividade
ou de partilhamento, as salas escuras propõem um encontro consigo mesmo, cinema
é sonho e os sonhos são sempre particulares...
Por
isso, gosto mesmo de ir ao cinema no meio da semana, tranquila, salas vazias,
meu ritual começa logo cedo, com a escolha do filme, uma decisão... e meu dia
fica completamente pautado nessa pequena decisão, depois pegar um ônibus, o
metrô e ao entrar na sala escura deixar todos os problemas, tristezas e
preocupações de lado, muito longe daquela sensação mágica de viver uma outra
história, do desejo de querer ser aquele personagem especial, das
identificações e inúmeras emoções que trazem à tona uma história longínqua particular
e tão importante...
Pra mim, cinema é isso... o encontro comigo
mesma, algo solitário e revelador, é isso que o ato de ir ao cinema representa
pra mim, pois a questão fundamental é perguntar o que é que cada filme sabe
sobre a minha vida e para obter essa resposta, tenho que me permitir e garantir
uma boa dose de introspecção... e silêncio, antes e depois e durante algum
tempo....