domingo, 2 de outubro de 2011

'Transeunte' somos todos nós!


Acredito que Eryk Rocha será um dos diretores mais lembrado por ter reinventar o cinema brasileiro. Seus filmes são sempre extremamente surpreendentes, tanto na forma quanto no conteúdo.

Dirigiu o premiado documentário de longa-metragem "Rocha que Voa" (2002) que traça um panorama político-ideológico sobre a América Latina a partir de relatos de seu pai Glauber Rocha que viveu em Cuba.


Eryk trabalhou com diferentes suportes, do digital ao super 8 passando pela película 16mm e pelo vídeo. Cada um desses suportes está absolutamente afinado com o projeto, cada uma destas escolhas está a serviço do objetivo a ser alcançado. Forma e conteúdo completamente articulados, nada está no filme por acaso.

A Película 16mm utilizada no filme foi encontrada pela equipe de filmagem no sótão abandonado de uma repartição, estavam vencidas há muitos anos ( 1976 e 1985) fato esse mais do revelar a passagem do tempo e a volta a um passado distante, desperta questões sobre a memória de um certo fazer cinematográfico e sobre a memória de quem não viveu a história.
A coloração esverdeada, granulada e esmaecida que vemos em alguns momentos do filme, somadas ao preto e branco e o forte contraste entre luz e sombras, retransmite a idéia de certo envelhecimento, um passado, promovido por um material que organicamente se articula a forma que o filme quer ter e seu conteúdo. É um filme orgânico no sentido ético e estético.
A montagem em Rocha que Voa e em todos os filmes do diretor procura valorizar a pesquisa, sua busca pessoal e seu esforço por traduzir seu olhar sobre os temas que aborda, encontrando assim, outras formas de representação social em filmes de não ficção.

Em 2009 lançou o documentário “Pachamama”, “que significa para os indígenas andinos “mãe-terra” e designa a deusa agrária dos camponeses – narra a viagem do diretor pela floresta brasileira em direção ao Peru e à Bolívia, onde encontra a realidade de povos historicamente excluídos do processo político de seus países e que pela primeira vez na história buscam uma participação efetiva na construção do seu próprio destino”. Trata-se de mais um filme sensível, no formato road-movie que nos leva a viajar “pela realidade amazônica e andina, que revela um continente em ebulição, perpassado pela cultura milenar andina, que irradia pelo continente sul americano substancia primordial na constituição de novos paradigmas políticos.”

Impossível não lembrar do Viajo porquê preciso, volto porquê te amo de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz que subverte o formato, trazendo um protagonista ausente fisicamente e co m narração em off.

Agora, Eryk nos presenteia com seu primeiro filme de ficção e novamente, procura inovar e criar outras possibilidades cinematográficas de contar uma história com bem poucas palavras, de modo original, rompendo com os estereótipos das narrativas tão presentes no cinema. Novamente Erik investiu na música, na poesia, no eterno preto e branco e mais interessante ainda, abriu uma seleção de atores na internet para compor o elenco do filme, O protagonista interpretado pelo veterano Fernando Bezerra, ator de teatro e cinema está definitivamente maravilhoso no papel do aposentado Expedito e prêmio de melhor ator no Festival de Brasília.
O filme é sobre um aposentado de 65 anos, extremamente solitário sem esposa, filhos e amigos, um homem absolutamente introspectivo, cuja vida se resume às andanças pelas ruas e bares do Rio de Janeiro. Passa grande parte do tempo apenas ouvindo seu rádio, o eterno companheiro. Expedito assume sua condição de peregrino que observa, que olha e vê a vida com olhos de descoberta e nostalgia.
Fomos então brindados com um filme que inaugura a ficção na obra do diretor e só nos resta desejar vida longa à Erik Rocha e a construção de uma certa cinematografia brasileira..



Nenhum comentário:

Postar um comentário