terça-feira, 5 de julho de 2011

Morrer, Renascer, Levitar – Reflexões sobre um Café Filosófico



Wisnik inicia o programa com uma reflexão sobre o processo de elaboração do luto como algo que faz aquilo que perdemos viver em nós, em contraponto, o sentimento de melancolia deixa o eu desertificado, empobrecido, sem valor e desprezível.
Então, fiquei pensando sobre nossa possibilidade e disposição para simbolizar o luto...e afinal, será que a arte é realmente um elemento facilitador no processo de busca de sentido para a vida, diante da ausência do objeto amado?
Sempre achei que diante da morte só nos resta a escolha por viver ou morrer junto com o objeto amado. É tocar a vida em frente, de preferência com alguma alegria ou ficar pra sempre assim, apegado à falta, a espera de um encontro improvável, ou de recuperar o elo perdido.
Assim, me lembrei da canção:

Existir a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina.

E eis a canção e a literatura como ferramentas para significar a perda e enfrentar a melancolia, ou seja, o mundo pode cair, mas o sujeito continuará lá inteiro, levitando, ele é responsável por si mesmo, é o único responsável pelo seu desejo, e por salvar-se a si mesmo.
Não podemos esperar que um outro o faça... isso remete à idéia de que toda e qualquer situação vivida está diretamente relacionada com as escolhas particulares conscientes ou não que fazemos dia após dia.
Portanto, viver ou não viver o luto trata-se de uma escolha subjetiva, de sobreviver ao luto que fazemos. Entrar em contato com a própria finitude e fragilidade, lembrar que a única certeza que temos é a morte.
Se deparar com a perda significa perguntar-se sobre nossas escolhas. Significa buscar uma força misteriosa que permita continuar a travessia ou se entregar, interromper a caminhada, e então morrer com o objeto perdido.... se entregar ao sem sentido.
Elaborar um luto exige uma postura de desapego, que não quer dizer amar menos, mas amar enquanto é possível compartilhar a vida e afinal, temos a memória, peça fundamental na relação contínua e ininterrupta entre passado e presente. Porque a memória sim é eterna como matéria líquida que ocupa nosso corpo e nos faz existir.
A presença e a ausência são as principais matérias da memória. A poesia acolhe a melancolia e a dor de existir, na medida que lhe dá nome, lhe significa, lhe descobre o sentido e significados.
Precisamos de silêncio para viver nossa própria tragédia. É necessário entrar em contato com a própria dor, com as perdas... As grandes cidades, suas impossibilidades e a velocidade feroz presente nos pequenos detalhes, a urgência, a violência e agressividade que exercemos em relação aos outros, revela e reforça nossa própria fragilidade, nossos medos.
Experiências sem lugar, perdidas no espaço desconhecido. “Tudo ao mesmo tempo, agora”. Frenesi. O luto como história contada e vivida, isso é a elaboração possível.
E lembro aqui a letra tão melancólica de Chico Buarque:

“A saudade é o pior castigo e eu não quero levar comigo a mortalha do amor... Adeus!”

(Reflexão sobre a Série Meu Mundo caiu com Zé Miguel Wisnik no Café Filosófico da CPFL. Curadoria de Renato Janine Ribeiro.)

http://www.cpflcultura.com.br/site/2010/07/21/cafe-filosofico-cpfl-eu-que-aprenda-a-levitar-jose-miguel-wisnik/

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