terça-feira, 19 de abril de 2011

A Passagem do Tempo

Participamos de uma festa singela. Emoção, beleza, religiosidade! Foi aniversário de 90 anos da Dona Olívia. Esposa do Seo Bento, mãe de Vilma, Valdir, Neuza, Lia, Sérgio, Tonho, Leni e minha melhor amiga, tão querida, Lidia.
Fiquei pensando na história de cada um de nós, pensei na minha própria história. Como a vida é fugaz, como é dura a velhice. Mas mesmo assim, tentei imaginar a história da Dona Olívia até ali.
Muito trabalho doméstico, muito afeto, a árdua criação dos filhos que ela adora, e por fim a sedução de todos que de algum modo, compartilharam seu afetuoso cotidiano.
Como será que uma pessoa se sente ao completar 90 anos? Dona Olívia adora festa, ela é a estrela, ela canta, dança e toca gaita. Minha mãe (71 anos), ao que parece, se sentiu uma garota e segura pegou no braço da Dona Olívia pra conduzi-la... Olha só!
Bonito de ver! Pensei: será que chegaremos lá? talvez não, nossa qualidade de vida é tão frágil! Valorizamos coisas tão fugazes... Dona Olívia até hoje quer cuidar das suas galinhas, quase poesia do Rosa. Outro jeito de viver, acreditar que a alegria está nas pequenas coisas e que o sentido da vida está na simplicidade. Ela não pode parar, quer regar as plantas, lavar o quintal, fazer o almoço e o cafezinho pra depois.
Coragem, determinação e vontade de viver. Me fez lembrar da avó camponesa de Saramago que disse: “ A vida é tão bonita, me dá uma pena morrer...”
Que feliz eu estava por compartilhar esse momento, seria muito triste não estar lá e perder a chance de me emocionar e aprender com a fé da Dona Olívia, seus filhos e o altivo Sr Bento.
Além disso, teve também o imprescindível profano, em pleno acordo com a sagrada existência da família querida. Música, alegria, violão, os netos, os amigos, a cerveja, os bolos com rosa lilás, sim, os bolos, porque afinal, também comemoramos os 91 anos do velho Bento que não se furtou a beijar sua amada esposa.
Fiquei imaginando que a vida não é um rascunho que agente passa a limpo depois. A vida é uma só, é aqui e agora! Pra que complicar? Porquê não aprender com o casal Bento a importância das coisas simples, do almoço em família, da fé, e da beleza do cotidiano, lembrei da história do carroceiro que vende fiado milhares de bananas para Dona Olívia, que não aceita comprar frutas de mais ninguém, quase levando à falência todos os filhos.
Todo o mundo quer almoçar, cantar e dançar na casa da Dona Olívia, coração de mãe mesmo! Sempre cabe mais um, mais um e mais mil. Então, desejo vida longa ao casal! Afinal, ainda temos muito pra aprender e melhorar...
Lembrei do poema de Maiakovski musicado por Caetano Veloso e deixo aqui essa homenagem à mãe Olívia e ao pai Antonio Bento.


Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A família se transforme
E o pai
Seja pelo menos o universo
E a mãe
Seja no mínimo a terra...

3 comentários:

  1. Adoro essa sintonia que nao se explica ,mas se sente !
    Acabei de ler seu texto ,logo depois que ganhei da Vivi o livro:" O coracao nao envelhece" .

    Envelhecer amedronta-nos. A nossa sociedade dá-nos uma imagem desastrosa da velhice. No entanto, este envelhecimento inevitável pode não nos condenar à solidão, ao sofrimento, à perda ou mesmo à dependência. Se é verdade que todos envelhecemos, também é verdade que podemos decidir não nos tornarmos «velhos». Esta é a mensagem que Marie de Hennezel nos transmite, e ensina, neste livro.

    E como poderemos envelhecer sem ser velho? Graças ao coração, ou seja, à nossa capacidade de amar e desejar. É o coração que nos pode ajudar a superar os nossos medos e apoiar-nos no seio das piores agruras da velhice.

    Marie de Hennezel orienta-nos no sentido de uma verdadeira «arte de envelhecer». Baseada em vários testemunhos recolhidos não só da sua experiência clínica mas também com a sua grande amiga - a Irmã Emmanuelle - ela revela-nos o quão profundo e intenso pode ser este momento da nossa vida, como podemos conviver com os desgostos e desfrutar as alegrias que a velhice nos traz.

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  2. Muito lindo o que você escreveu Luci,
    tenho o maior orgulho dessa familia principalmente desses avós lindos que tenho.
    Casa da vó nunca faltou : alegria,festas,comilança,muita gente e a fé.
    Temos o prazer de compartilhar esses momentos com nossos melhores amigos,e é bom saber que você faz parte desses melhores momentos e esteve presente.
    Obrigada :D
    Beijos Lívia Bento Torres!

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  3. Aprendi a enxergar na Dona Olivia a mãe que não tive. No seu Antonio conheci um pai que me aconselhava sem exigir nada em troca. Com os dois aprendi a ser mais dócil, a ter um coração mais aberto para o perdão, aprendi a perdoar. Não tenho palavras para descrever essas duas pessoas que transformaram a minha vida,não a vida exterior de coisas materiais, mas me ensinaram a enxergar dentro de mim coisas que estavam lá escondidas bem num cantinho. O que dizer deles.... O que desejar a eles senão que eles vivam muito. Muito é muito pouco.
    Bete Velasco

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