sexta-feira, 1 de abril de 2011

Filhos, melhor não tê-los? Ou Feliz por minha mãe estar viva!

O ótimo filme francês Feliz por minha mãe estar viva é um soco na boca do estômago, fala sobre a relação entre pais e filhos, um filme extremamente masculino. Três filhos homens, um pai ausente, um marido que abandona sua família, um pai doente demais para exercer esse papel e pra fechar, um filme dirigido por pai e filho (Claude Miller e Nathan Miller).
No meio disso tudo, há uma mulher adolescente, o pivô de todos os problemas, que afinal parece tão vulnerável quanto uma criança perdida.

Um toque de psicanálise ajuda a entender as relações complexas que se estabelecem. Questões como a adoção de irmãos, a preferência dos pais por um ou outro filho, o abandono e a impossibilidade de elaborar uma história, um passado vão se desenrolando sob o nosso olhar. A angústia dos personagens é imensa, a tensão presente do começo ao fim nos faz apertar o braço da cadeira.
Nesse tempo de juventudes perdidas, vemos a mais provável e brutal manifestação de um Édipo com todo sofrimento que isso pode envolver.
Só tristeza e dor. As crianças, os pequenos atores, são simplesmente espetaculares. Sensibilidade e espontaneidade na interpretação dos papéis, uma delícia de ver. A atriz que interpreta a mãe, confusa, despreparada, arrependida, é também extremamente assertiva, impecável, irritantemente fria, dura, também não consegue entender o que aconteceu. Trata-se de um ser humano perdido num mundo que ela própria não sabe qual é... e é essa dúvida existencial que prevalece e põe tudo a perder, quando não há o lugar da reflexão, da crítica, do perdão...
O filme mostra a passagem do tempo, o crescimento das crianças, dois irmãos que sofrem com a ausência da mãe que os deixa tão sozinhos, o irmão maior, sem saber, cumpre a função materna imprescindível para o pequeno, esbanjam afeto, aquele mesmo recusado pelos adultos.
As crianças crescem, de algum modo nos dizem que não é tão simples assim ser adotado, mesmo que seja por uma família legal. É preciso sobretudo entender e elaborar o abandono, aquilo que vem antes de tudo, que justifica o ato de acolhimento que significa a adoção. Mas o antes tem que ser melhor decifrado, para que o afeto do outro possa ser aceito.
Nesse sentido o filme fala da dor de existir, do contexto em que nascem os filhos, do quanto é difícil tê-los, das difíceis relações familiares, dos conflitos, das dores, da solidão dos homens.

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