segunda-feira, 7 de março de 2011

'Um homem muito estranho' num mundo caótico

O vencedor do Globo de Ouro e do Oscar de melhor filme estrangeiro foi o dinamarquês Em um Mundo Melhor da diretora Susane Bier, uma história sensível que no mínimo faz pensar em alguns aspectos da condição humana, a começar pela questão da violência.

Temos um protagonista angustiado, um médico que atua num campo de refugiados africanos, um pai que tenta a todo custo manter a integridade e acima de tudo a coerência e um homem que tenta salvar sua relação com a esposa, também médica. Trata-se de um filme extremamente humanista, as pessoas estão no centro de tudo, em meio aos conflitos, são responsáveis por tudo que está aí e portanto só elas poderão mudar o rumo da história.
O filme mantém a tensão do começo ao fim, as relações estão todas envoltas numa nuvem de ressentimentos, a animosidade na relação com o estrangeiro, o ciúme na relação amorosa, a impossibilidade de perdoar, a necessidade de vingança, a humilhação do mais fraco e como sempre a eterna questão que torna o mundo tão pior e mais difícil: ‘olho por olho, dente por dente’ e a justiça feita com as próprias mãos.
É isso, que em meio ao caos o homem, o médico e o pai tenta ensinar aos seus filhos, a possibilidade de amar, a qualidade humana presente em cada pessoa, a fragilidade e o desespero presente nas ações cegas e egoístas, é preciso amar apesar da barbárie...para combatê-la, evitar que se estenda e prevaleça na história.
E pensei que plantamos a violência todos os dias, nas pequenas coisas, na atitude brusca no metrô, na resposta ríspida que damos ao desconhecido, na atitude agressiva dirigida ao amigo, fiquei envergonhada por perceber meu mundinho tão pequeno, a crise crescente de valores como a generosidade, o respeito, a solidariedade, a bondade, o perdão, a amizade...
O filme trata das relações na sua essência, da construção de uma ética, da possibilidade de cada um se colocar como responsável e assumir a parte que lhe cabe na construção de um mundo menos injusto e violento.
Achei que o melhor do filme está na relação do médico com seus filhos, aí consiste a esperança, na relação repleta de reflexão e preocupações éticas, sobre como explicar para uma criança que é possível ter atitudes diferentes daquelas que vemos se reproduzir aos borbotões em instituições como a família e a escola, mas ir na contramão de uma lógica destrutiva onde o que prevalece é o ‘cada um por si’.
Diga-se de passagem, manter a coerência num mundo tão caótico não parece mesmo tão fácil... Mas o cinema nos permite essa viagem e assim conhecemos Anton, o médico idealista e sobretudo o homem que tenta contribuir para a construção ainda que extremamente longínqua de um mundo um pouco melhor....
Ao sair do cinema, me perguntei se no meu cotidiano, eu seria capaz de exercer mais frequentemente, atitudes generosas e éticas em relação às pessoas que encontro no caminho, o tempo inteiro, sem esperar nada em troca e... é claro que não sou, acho que não somos...Isso é coisa rara, pra poucos... Coisa de cinema?



 

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