segunda-feira, 7 de março de 2011

A Poesia redentora de Lee Chang-Dong


Poesia é um filme sul-coreano de rara beleza. Mija é uma linda senhora com mais de 60 anos que cuida do neto de 14 anos aproximadamente. Mas o que realmente encanta é que Mija tem um olhar muito especial para as coisas simples da vida. Ou seja, sexagenária, começa a sofrer lapsos de memória, então, quase numa relação de causa e efeito, decide inscrever-se num curso de poesia, talvez pra ficar um pouco mais perto das palavras que tanto ama.

A personagem enfrenta algumas questões complicadas como a incomunicabilidade que marca sua relação com o neto e com sua filha, que ao divorciar-se foi embora da cidade e quase não dá notícias. Trata-se da solidão!
Mija é um ser humano singelo, não se entrega, ao contrário, tenta ver beleza em cada detalhe da natureza, é apaixonada por flores e passa o tempo todo tentando descobrir com o é possível escrever um poema...
A relação com o neto se complica quando ela toma conhecimento de que o menino e seus colegas de escola violaram uma menina que suicidou-se na pequena cidade em que vivem. Mija fica muito transtornada com a descoberta e paralelamente com o diagnóstico de sua doença.
Ela é uma mulher sensível, íntegra, que não se conforma com o encaminhamento que os pais dos outros meninos envolvidos dão ao fato: pagar uma indenização para a família da garota morta. Mija se sente confusa, culpada e profundamente triste com atitude do neto, mas não sabe como falar com ele sobre isso...
Solitariamente, Mija continua vivendo num pequeno apartamento com um neto ausente, alheio e uma filha pouco interessada nela e no filho. A poesia continua sendo sua tábua de salvação. Ela aprimora seu olhar, faz anotações e interpretações sobre aquilo que vê... e tristemente segue o caminho...
Ela está preocupada com o destino do seu neto, com o abandono da filha, com sua doença, mas essencialmente, com sua dificuldade em escrever um poema, ela precisa falar o mundo como sente, ela quer saber qual é a fórmula, ela ama os poetas que sabem significar o mundo, que inventam a vida e a beleza com palavras.
É um filme sobre a magia das coisas pequenas que quase não vemos, Mija olha pro mundo para desvendá-lo, precisa da poesia para recriar sua história, compreender e recriar seus caminhos. Ela não podia esquecer as palavras, o mundo só existe porquê falamos o mundo. Mas Mija teve muito medo de não reconhecer mais as flores, as cores e os pássaros e se fosse assim, de que adiantaria continuar a viver?

Um comentário:

  1. Lu, concordo com vc. "Poesia" é um filme singelo. Singelo como a vida com seus sofrimentos, dores, amores, paixões e beleza. Durante o filme uma das coisas que mais me tocou foi a percepção que a dor que Mija sentiu por Agnes, não cabia em seu peito. A indiferença de tds por aquela morte: dos garotos, dos pais, dos que acompanharam o choro da mãe no hospital a deixa cheia de dor. Seu professor de poesia - tendo a ponte de onde Agnes jogou-se como fundo -avisa que para fazer poesia é preciso observar, olhar o mundo com cuidado. Mija o faz e transforma a experiência de Agnes em poesia, como forma de olhá-la de não ser indiferente.

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