segunda-feira, 21 de março de 2011

Lope de Vega ou Entre duas Paixões

Talvez o filme Lope de Andrucha Waddington pudesse ser muito mais. Eu confesso que não conhecia o poeta e o cinema reafirma mais uma vez que além de nos levar aos lugares mais distantes e incríveis, aos tempos mais remotos, também nos ajuda a ampliar os horizontes culturais, no entrecruzamento de linguagens artísticas como nesse caso, a literatura, a poesia espanhola do final do século XVI e a história como pano de fundo.

Digo que o filme poderia ser mais, porquê de qualquer modo parece ter faltado certa energia aos atores e principalmente ao protagonista, o poeta.
O filme conta a história de Lope, um ícone fundamental da literatura espanhola da época, um gênio precoce, um homem forte, apaixonado pela poesia, pelo teatro, pelas mulheres, pela vida afinal...
Nesse sentido, o filme pecou, talvez pelo excesso de zelo e correção técnica, em detrimento da direção de atores, que acabou por conter demais a expressão dramática dos atores, deixando o filme um pouco frio.
A luz do filme é linda! Contribui totalmente para a ambiência proposta, a música bem colocada, sem exagero pareceu perfeita. As duas atrizes que protagonizam o romance com o charmoso e viril poeta convencem, mas sem dar asas a paixão desenfreada, ou seja, não são lá muito calorosas, quanto a história parecia pedir... O ator argentino Alberto Amman que interpreta o poeta se desempenha bem, ainda que o resultado tenha parecido um pouco tímido. A grande surpresa e que deixa um gostinho de quero mais, é a rápida participação de Sônia Braga como mãe do poeta, maravilhosa, interpretando uma velha matriarca que lamentamos por vê-la morrer logo no início do filme, em contrapartida, temos Selton Melo num papel pontual, quase insignificante, muito inferior ao que o ator poderia desenvolver, infelizmente!

Lope de La Vega viveu no mesmo período histórico que Cervantes, outro gênio da literatura, é inevitável, o filme transcorre em clima de romance de cavalaria, tão comum nesse período, me fez relembrar o Dom Quixote, outro louco, apaixonado e sonhador.
Ao final, a música de Jorge Drexler acrescenta mais poesia ao filme e concluo que Andrucha se saiu bem, afinal, trata-se de uma grande produção, resultado de uma pesquisa cuidadosa. Lope contribui com a cinematografia, se não pela grandiosidade das interpretações, por ter trazido a tona o singular poeta espanhol, das grandes paixões!


Lope. 2010. Brasil-Espanha. Direção: Andrucha Waddington. Duração: 106min.Drama. Elenco: Alberto Ammann, Leonor Watling, Sonia Braga, Selton Mello

Nenhum comentário:

Postar um comentário